Mostrando postagens com marcador Woody Allen. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Woody Allen. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Zelig - Análise Semiótica II

Por Rejane Santos e Tábata Porti
 
Tudo o que constitui uma cena cotidiana, ainda mais quando ela pertence ao universo da imaginação de um autor e diretor em um filme, é um signo. Tudo aquilo que representa algo, que recebe um nome e tem uma imagem presente é um signo, fora as demais definições desse conceito.Tomando como base a análise dos signos presentes na narrativa do filme Zelig, de Woody Allen, podemos concluir que a narrativa é baseada na exposição desses signos, porque é a constante troca de signos em uma mesma personagem que deixa o espectador intrigado. Zelig é um retrato da mudança constante, do acompanhar tendências, portanto, um ícone do capitalismo, que faz com que as pessoas deixem-se levar pelo que é imposto pela maioria. No caso, ele se deixa levar para se incluir.

Na trama, a personagem que dá nome ao filme, vive em uma aparente crise de identidade e para sentir-se bem e pertencente aos grupos da sociedade, atribui a si mesmo as características desses grupos: cor de pele, sotaque, vestuário, expressão facial. Tornando-se um homem camaleão (na linguagem semiótica um ícone, o que parece a verdade absoluta para o espectador que ainda não compreende), conhecido pelos seus desaparecimentos e aparecimentos ocasionais e surpresos. Tudo que lhe é atribuído para a semelhança com os diferentes grupos é também um diferente signo inserido no contexto da história, como dito anteriormente, para intrigar o espectador e deixá-lo em dúvida sobre a veracidade dos fatos. Chega-se a conclusão de que o caso de Zelig, é neurológico e ele passa a consultar-se com uma terapeuta, que está disposta a ajudá-lo a superar suas crises de identidade.

Quando a imprensa toma conhecimentos do caso de Zelig e promove seu reconhecimento midiático, ele assume sua própria identidade (é quando se torna o índice, que compara as características das personagens assumidas com as do ser humano “real”), conhece personalidades famosas, até apaixonar-se e planejar um futuro na companhia de Eudora Fletcher, a terapeuta que tanto o ajudou. Zelig passa a viver a vida normalmente. Por conseqüência da exposição, seu passado vem à tona e junto a ele, tudo aquilo que Zelig não havia tomado conhecimento que acontecera em seus atos camaleônicos passados: outras famílias, outras vidas já antes confundidas. O homem que era exaltado vira alvo de piadas e abandono de seus admiradores. É aí que o confiante Zelig tem uma recaída e volta a desaparecer pelo mundo, para unir-se a novos grupos e assumir novas características (o símbolo, resultado das frustrações de seus personagens e de seu próprio eu; aí então forma-se um novo ícone). Quem preocupava-se com ele nos momentos de dificuldade trava uma busca por Zelig, até que ele seja encontrado e consiga retomar a normalidade e provar sua inocência diante das acusações.

O filme por si só é um índice porque adquire as características de um documentário mesmo não sendo. Toda a história é contada em um falso documentário, que mescla imagens antigas ainda em preto e branco, com gravações recentes, já coloridas. Em meio a história contada detalhadamente em poucas cores, existem os comentários de pessoas que supostamente teriam presenciado a história de Zelig. Apenas com o passar do tempo e justamente pelos detalhes das gravações, nos damos conta de que o documentário é inteiramente falso; e só mais tarde que é o próprio diretor quem interpreta o protagonista da história. Aparece aí mais uma das noções de ícone, índice e símbolo. A primeira vista, a personagem Zelig era um ator comum, ou uma personalidade real, um ícone, fruto da forma aparente. Quando associamos a imagem do protagonista à de Woody Allen, descobrimos um índice, fruto da memória. E após leitura, informação e pesquisa para confirmação do que se supõe, no caso, que é o próprio Woody Allen que interpreta Zelig, aparece um símbolo, fruto da cultura.

A produção do falso documentário ocorreu usando como desculpa, o fato de que os espectadores interpretam o cinema americano como verdade incontestável. Quando se provoca o espectador, e este acredita, há interesse cada vez maior e por consequência, o aumento da procura. É a indústria cultural que transforma a cultura numa forma de obtenção de lucro.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Zelig – Análise Semiótica

O filme Zelig é apresentado como um documentário, mas é fictício, sendo assim é um ícone. O personagem principal Leonard Zelig não é real. Trata-se de uma construção de uma falsa realidade idealizada e criticada pelo diretor Wood Allen – que é o próprio protagonista do filme. Zelig é um homem que diante do convívio com as pessoas, assume a personalidade delas, podendo ser médico, negro, índio, judeu etc. Tudo que Zelig precisa para modificar-se é um ambiente e pessoas diferentes dele, sendo assim, ele ganha feições e assume comportamentos. Zelig ganha além de roupas típicas, aparência e cor de pele das pessoas na qual convive, em poucos minutos.

A Dra. Eudora Fletcher assim como outros médicos, psicólogos e estudiosos, procuram entender o motivo desse comportamento. A verdade é que somente a Dra. Fletcher se preocupa com Zelig, pois as outras pessoas buscam nele somente popularidade. A partir daí a história de Leonard Zelig passa a ser veiculada em diversos meios de comunicação (jornais, revistas e rádio).
Zelig aparece ao lado de personalidades muito famosas da época reconhecidas até hoje, entre elas: Charles Chaplin, o presidente Woodrow Wilson e Hitler. Isto é a apropriação do simbólico (personagem reconhecidos pela história) para reforçar a categoria do simbólico (Zelig). Ao longo do filme observamos imagens em preto e branco e também depoimentos de pessoas importantes retratando assim, o aspecto documentário do filme. Percebe-se que durante todo o filme o diretor procurou dar credibilidade a história fazendo com que o espectador acreditasse que era a realidade.

O filme se passa nos anos 20, nessa época os Estados Unidos passava por um período de muita prosperidade. A imprensa mantinha-se de notícias escabrosas e chocantes, todo e qualquer acontecimento tornava-se assunto a ser publicado e ganhava muita repercussão e divulgação. Heróis eram feitos e desfeitos todos os dias. Nesse mesmo período surge Zelig. No instante em que foi diagnosticado pela Dra. Eudora Fletcher como um homem de múltiplas personalidades, ele se torna o assunto da vez. Com isso cria-se um simbólico, pois as pessoas começam à chamá-lo de Homem – Camaleão.

Zelig chama muita atenção na cidade e assim ganha o “prêmio” de ser reconhecido pela Indústria Cultural. Com o interesse das pessoas pela história do homem-camaleão (lê-se venda de jornais), sua peculiaridade de se transformar é comercializada, e assim vira garoto propaganda de sua marca. Zelig é vendido para as pessoas através de camisetas, copos, broches etc. Ganha música com o apelido que recebeu após a fama, e filme. A Indústria Cultural através do que a massa lhe apresenta elege, aceita ou não aquela informação. Aceitando, explora um acontecimento, história ou pessoa, para garantir lucros, sem que o espectador use seu senso crítico.

Analisando o filme também semioticamente, o que é mais do que possível, vemos que o diretor Wood Allen faz um jogo com as imagens argumentativas para caracterizar o simbólico. Zelig para ganhar a aparência de outras pessoas se caracteriza. Ele utiliza todos os códigos que definem a aparência das pessoas, que integram um grupo distinto do personagem. Ele se transforma em um índio e para isso ganha cor da pele diferenciada da sua, roupas, além de se comportar como tal.
Zelig só se transformava quando estava perto de alguém e assim ganhava suas características, não era algo voluntário. Essa transformação é uma crítica de Allen a sociedade americana que se comporta como se quisesse se esconder e não mostra quem realmente é e suas opiniões. Também percebemos que a maioria de suas transformações ocorre com negros, índios, judeus ortodoxos e até obesos.

Seguindo a Lógica de Pierce que define a interpretação segundo o espaço no qual o objeto é mostrado, analisamos que a cada transformação, só se era possível interpretar quem estava inserido naquele ambiente ou conhecia a história. Pois quem estivesse de fora ou não soubesse do diagnóstico do personagem principal não saberia dizer que aquilo era uma representação de alguém, não o próprio Zelig caracterizado.

Podemos observar, segundo a representação do signo e de suas classificações: ícone , índice e símbolo que ao se transformar, Zelig ganha as características de outras pessoas que não se assemelham a ele na realidade. Começa assim, sendo um ícone. Zelig é uma representação de alguém, quase uma cópia. A imagem com a foto do Homem – Camaleão nos produtos comercializados é um ícone também, pois é uma representação de Zelig, não sendo ele próprio. É um desenho. Ao se caracterizar como outras pessoas, existe uma comparação para ver de onde conhecemos tais características, é uma leitura do corpo, confundindo quanto a sua verdadeira identidade, isso é um índice. Quando as pessoas acreditam que o que estão vendo é um negro, não o Zelig, temos então um símbolo.

O filme possui várias linguagens distintas. Estas vão das caracterizações de Zelig, ao amor correspondido da Dra. Eudora Fletcher pelo seu paciente. Linguagem nada mais é do que tudo que damos significação ao lermos. Lemos um livro, uma foto, uma música, uma pessoa, gestos, a moda, a culinária. Tudo que produz sentido pode ser lido e assim interpretado. É fato que Allen se utiliza muito mais de códigos não-verbais para construir seu filme. É através das caracterizações de Zelig que se passa toda a história. Podemos ainda dar o exemplo das personalidades que aparecem. Quando Zelig aparece atrás de Hitler não há diálogo entre os envolvidos, rimos da forma como Zelig e a Dra se comunicam, através de gestos e depois fogem dos soltados de avião. Concluímos assim que há comunicação sem dialogo, ou melhor, há comunicação sem linguagem verbal, que se trata de fala, ou texto escrito. A base para o entendimento do filme está na leitura que fazemos dos signos presentes em tudo, mas principalmente, nas roupas, gestos e efeitos de imagens.

Rebeca Rodrigues e Taís Lenny