quarta-feira, 6 de abril de 2011

Zelig – Análise Semiótica

O filme Zelig é apresentado como um documentário, mas é fictício, sendo assim é um ícone. O personagem principal Leonard Zelig não é real. Trata-se de uma construção de uma falsa realidade idealizada e criticada pelo diretor Wood Allen – que é o próprio protagonista do filme. Zelig é um homem que diante do convívio com as pessoas, assume a personalidade delas, podendo ser médico, negro, índio, judeu etc. Tudo que Zelig precisa para modificar-se é um ambiente e pessoas diferentes dele, sendo assim, ele ganha feições e assume comportamentos. Zelig ganha além de roupas típicas, aparência e cor de pele das pessoas na qual convive, em poucos minutos.

A Dra. Eudora Fletcher assim como outros médicos, psicólogos e estudiosos, procuram entender o motivo desse comportamento. A verdade é que somente a Dra. Fletcher se preocupa com Zelig, pois as outras pessoas buscam nele somente popularidade. A partir daí a história de Leonard Zelig passa a ser veiculada em diversos meios de comunicação (jornais, revistas e rádio).
Zelig aparece ao lado de personalidades muito famosas da época reconhecidas até hoje, entre elas: Charles Chaplin, o presidente Woodrow Wilson e Hitler. Isto é a apropriação do simbólico (personagem reconhecidos pela história) para reforçar a categoria do simbólico (Zelig). Ao longo do filme observamos imagens em preto e branco e também depoimentos de pessoas importantes retratando assim, o aspecto documentário do filme. Percebe-se que durante todo o filme o diretor procurou dar credibilidade a história fazendo com que o espectador acreditasse que era a realidade.

O filme se passa nos anos 20, nessa época os Estados Unidos passava por um período de muita prosperidade. A imprensa mantinha-se de notícias escabrosas e chocantes, todo e qualquer acontecimento tornava-se assunto a ser publicado e ganhava muita repercussão e divulgação. Heróis eram feitos e desfeitos todos os dias. Nesse mesmo período surge Zelig. No instante em que foi diagnosticado pela Dra. Eudora Fletcher como um homem de múltiplas personalidades, ele se torna o assunto da vez. Com isso cria-se um simbólico, pois as pessoas começam à chamá-lo de Homem – Camaleão.

Zelig chama muita atenção na cidade e assim ganha o “prêmio” de ser reconhecido pela Indústria Cultural. Com o interesse das pessoas pela história do homem-camaleão (lê-se venda de jornais), sua peculiaridade de se transformar é comercializada, e assim vira garoto propaganda de sua marca. Zelig é vendido para as pessoas através de camisetas, copos, broches etc. Ganha música com o apelido que recebeu após a fama, e filme. A Indústria Cultural através do que a massa lhe apresenta elege, aceita ou não aquela informação. Aceitando, explora um acontecimento, história ou pessoa, para garantir lucros, sem que o espectador use seu senso crítico.

Analisando o filme também semioticamente, o que é mais do que possível, vemos que o diretor Wood Allen faz um jogo com as imagens argumentativas para caracterizar o simbólico. Zelig para ganhar a aparência de outras pessoas se caracteriza. Ele utiliza todos os códigos que definem a aparência das pessoas, que integram um grupo distinto do personagem. Ele se transforma em um índio e para isso ganha cor da pele diferenciada da sua, roupas, além de se comportar como tal.
Zelig só se transformava quando estava perto de alguém e assim ganhava suas características, não era algo voluntário. Essa transformação é uma crítica de Allen a sociedade americana que se comporta como se quisesse se esconder e não mostra quem realmente é e suas opiniões. Também percebemos que a maioria de suas transformações ocorre com negros, índios, judeus ortodoxos e até obesos.

Seguindo a Lógica de Pierce que define a interpretação segundo o espaço no qual o objeto é mostrado, analisamos que a cada transformação, só se era possível interpretar quem estava inserido naquele ambiente ou conhecia a história. Pois quem estivesse de fora ou não soubesse do diagnóstico do personagem principal não saberia dizer que aquilo era uma representação de alguém, não o próprio Zelig caracterizado.

Podemos observar, segundo a representação do signo e de suas classificações: ícone , índice e símbolo que ao se transformar, Zelig ganha as características de outras pessoas que não se assemelham a ele na realidade. Começa assim, sendo um ícone. Zelig é uma representação de alguém, quase uma cópia. A imagem com a foto do Homem – Camaleão nos produtos comercializados é um ícone também, pois é uma representação de Zelig, não sendo ele próprio. É um desenho. Ao se caracterizar como outras pessoas, existe uma comparação para ver de onde conhecemos tais características, é uma leitura do corpo, confundindo quanto a sua verdadeira identidade, isso é um índice. Quando as pessoas acreditam que o que estão vendo é um negro, não o Zelig, temos então um símbolo.

O filme possui várias linguagens distintas. Estas vão das caracterizações de Zelig, ao amor correspondido da Dra. Eudora Fletcher pelo seu paciente. Linguagem nada mais é do que tudo que damos significação ao lermos. Lemos um livro, uma foto, uma música, uma pessoa, gestos, a moda, a culinária. Tudo que produz sentido pode ser lido e assim interpretado. É fato que Allen se utiliza muito mais de códigos não-verbais para construir seu filme. É através das caracterizações de Zelig que se passa toda a história. Podemos ainda dar o exemplo das personalidades que aparecem. Quando Zelig aparece atrás de Hitler não há diálogo entre os envolvidos, rimos da forma como Zelig e a Dra se comunicam, através de gestos e depois fogem dos soltados de avião. Concluímos assim que há comunicação sem dialogo, ou melhor, há comunicação sem linguagem verbal, que se trata de fala, ou texto escrito. A base para o entendimento do filme está na leitura que fazemos dos signos presentes em tudo, mas principalmente, nas roupas, gestos e efeitos de imagens.

Rebeca Rodrigues e Taís Lenny

Nenhum comentário:

Postar um comentário